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O avanço tecnológico e as inúmeras descobertas registradas nas últimas décadas alavancaram o sistema de saúde em todo o mundo. O resultado disso é vida longa às novas gerações e, consequentemente, desafios inéditos para o setor. Como dar conta do aumento de custos embutido no crescimento do número de pacientes e no tratamento de doenças crônicas típicas do envelhecimento populacional?
Players de saúde nacionais e internacionais tentam responder essa questão. E o desafio não para por ai. Além da dificuldade de absorver a demanda gerada por uma expectativa média de vida que beira os 90 anos de idade, o sistema quer entender como será possível conciliar o atendimento com a entrega de valor agregado no tratamento.
O debate em torno do conceito de “value-based care“, ou “cuidado baseado em valor” tem ganhado atenção junto à expectativa de que, em 2023, pela primeira vez na história, haverá mais pessoas no mundo com 65 anos de idade do que com cinco anos. No Brasil, a estimativa é que até 2060 o país tenha 19 milhões de pessoas com 80 anos ou mais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse contexto, mais do que nunca, discute-se a importância da prevenção, da padronização de protocolos e, claro, do resultado completo do tratamento para a vida do paciente. Já é consenso que o modelo que onera o paciente sem garantir resultados satisfatórios não se adequará mais a ninguém, menos ainda aos idosos do futuro.
A prevenção tem merecido especial atenção nesse processo. Em alguns países, o setor de saúde tem apostado em iniciativas de bem-estar junto ao ambiente corporativo, com programas contra o fumo e diabetes, a favor da alimentação balanceada, além da maior oferta de exames de rotina. E, o papel das empresas na saúde dos funcionários terá peso mais decisivo nas próximas décadas, já que os negócios naturalmente serão impactados pelo envelhecimento da força de trabalho.
Atualmente as corporações – em especial as brasileiras -, não têm modelos de atuação favoráveis ao melhor aproveitamento dos profissionais idosos. São poucas as companhias que investem em práticas de qualidade de vida e existe a percepção de que os mais velhos não devem ser considerados em seleções por custarem caro e renderem menos. Ou seja, além de uma mudança de processos, os negócios precisarão passar por uma transformação cultural.
Otimização de custos
Já no caso das empresas do setor de saúde, a aposta principal deve ser a prevenção. Além dos programas de bem-estar, a expectativa é que os investimentos em soluções digitais e tecnológicas poderão permitir intervenções antes de qualquer manifestação de sintomas relacionados a doenças. Diante desse cenário complexo que se desenha para o sistema de saúde, aqueles que forem capazes de reduzir riscos por meio de prevenção ao mesmo tempo em que aplicam protocolos padronizados, serão os mais competitivos. Esse sistema organizado irá se traduzir em economia de escala, com uma fatia maior de recursos podendo ser direcionada para os tratamentos necessários.
Os especialistas no setor garantem que os cuidados de saúde já não funcionam mais por meio de taxas por serviço. Acredita-se que o modelo de reembolso será cada vez mais baseado no valor agregado que o tratamento trará para o paciente. E, para alcançar escala, já é preciso que as operadoras de saúde identifiquem suas áreas de riscos atuais, busquem as métricas financeiras e operacionais adequadas, entre outros pontos.
Além disso, será preciso dedicar esforços à otimização de custos, o que permitirá, de um lado, reduzir alguns gastos e, de outro, investir em resultados de longo prazo. As equipes operacionais, clínicas e de TI devem passar a ser integradas, assegurando um atendimento mais aprimorado.
Embora o setor de saúde tenha superado obstáculos enormes no passado com o avanço tecnológico que culminou em diversos tratamentos e novos equipamentos, aparentemente, o desafio atual não será menor. Porém, é certo que os operadores que quiserem sobreviver nesse universo que soma o envelhecimento populacional com controle de gastos e percepção de valor no tratamento precisam ter em mente uma palavra-chave: organização.