Tempo de leitura: 3 minutos
Ganha corpo mundo afora a discussão em torno do conceito de “value-based care“, ou “cuidado baseado em valor”. Pelo menos sete países já formularam políticas para a adoção dessa abordagem em que os resultados alcançados pelo paciente rendem mais para as unidades de saúde do que a realização de atendimentos e procedimentos.
O conceito tem origem na complexa briga do sistema de saúde mundial com o aumento dos custos que, na maioria das vezes, não vem acompanhado de um aprimoramento do atendimento. Estudiosos do tema são categóricos ao afirmar que o modelo baseado em excesso de exames, tratamentos e medicamentos está com os dias contados para ser substituído por uma abordagem centrada exclusivamente no paciente.
O debate ganhou força em 2006, com a publicação do livro “Redefinindo cuidados de saúde”, dos norte-americanos Michael Porter e Elizabeth Teisberg, em que os autores apresentam a criação de uma “agenda de valor”. Tal agenda abrange a reestruturação da forma em que a assistência médica é organizada, medida e reembolsada.
Até o momento, Suíça e Reino Unido são as nações em que as discussões estão mais avançadas. Outras como Alemanha e Estados Unidos já iniciaram projetos-piloto envolvendo o tema. Na lista aparecem ainda Turquia e Colômbia, únicos países em desenvolvimento que já consideram na prática os cuidados baseados em valor. No Brasil, o assunto ainda não saiu do campo teórico.
Entenda
Uma das diferenças do value-based care em relação ao sistema atual é que os resultados do tratamento devem ser medidos por condição médica (diabetes, por exemplo) e não por especialidade ou procedimentos realizados, o que permite um balanço mais aprimorado. O Valor do Paciente será então definido pelos resultados alcançados divididos pelos custos gerados.
Além disso, são levados em conta particularidades importantes para a qualidade de vida do paciente após a conclusão dos cuidados. No caso de uma pessoa com câncer de próstata, por exemplo, embora vencer a doença seja prioridade, a manutenção das suas funções sexuais após o término do tratamento é de extrema importância e também deve ser levada em conta.
Essa nova forma de encarar o modelo de cuidados e de remuneração representa uma verdadeira quebra de paradigma para o setor de saúde. No Brasil, a manutenção do modelo de pagamento por procedimento já se provou insustentável, com a inflação da área de saúde superando muito o índice oficial. A discussão sobre o cuidado baseado em valor ainda engatinha por aqui, mas, para médicos e especialistas, o debate deve ganhar fôlego nos próximos anos, principalmente se a eficiência do novo sistema for comprovada em outros países.
Unidades de saúde brasileiras estudam ainda outros tipos de modelos de remuneração, como o “por desfecho”, em que o hospital recebe um valor fixo ao término de cada tratamento, independentemente dos procedimentos realizados. Essa tem sido entendida como uma forma de reduzir a demanda desnecessária por exames e medicamentos.
Tecnologia
O debate em torno do modelo de remuneração é complexo e as possibilidades devem variar de acordo com a capacidade, posição no mercado e situação financeira de cada unidade hospitalar. Mas, já existe mundialmente a certeza de que os cuidados baseados em valores são indissociáveis do campo digital e da criação de um grande e detalhado universo de dados.
Os canais digitais combinados com análises adequadas já se mostram eficientes para o tratamento e também para a prevenção de doenças. Um sistema de saúde capaz de notificar um paciente sobre um aumento dos seus níveis de colesterol pode chegar, inclusive, a evitar um quadro de infarto, derrame e AVC. Ou seja, uma base de dados detalhada pode aliar o maior valor do atendimento prestado com uma redução de custos.
Porém, para que esse cenário ideal seja alcançado, ainda há um longo caminho, que passa pela infraestrutura tecnológica dos hospitais e do próprio esforço dos profissionais de saúde em alimentarem tais canais.